A CRIANÇA DE NOVE E DEZ ANOS
Aos nove e dez anos aparecem as primeiras mudanças fisiológicas devidas a puberdade. Tais mudanças suscitam novas tensões e ansiedades que pareciam adormecidas, e que na realidade estavam em período de latência.
Algumas características nessa idade podem ser observadas:
Desenvolvimento da afetividade e socialização
® O amadurecimento do pensamento infantil se dá graças a um procedimento de interiorização das mudanças apresentadas até aqui, o processo de socialização está em seu ápice.
® Os interesses afetivos são transferidos do movimento puramente pulsional que exigia satisfação imediata a intelectual e simbólico, permitem uma aproximação progressiva com as leis da sociedade.
® A criança deixa de ser infantil e caprichosa, aprende a ter paciência quando a situação exige, e inclusive pode preferir a dificuldade à velocidade.
® Entre esses dois anos praticamente se fecha a última parte da infância, para dar início a outro período, a adolescência.
® Os diferentes processos de amadurecimento que ocorreram durante os anos da infância estão agora em um ponto de consolidação e equilíbrio, enquanto, por outro lado, ainda não se vislumbram as tensões e os conflitos que vão caracterizar a fase da adolescência.
® A criança possui um bom domínio de si e é capaz de pensar e raciocinar por si mesma, sendo também, por conseqüência, mais autosuficiente.
® É época de expansão, e parece querer experimentar tudo, sempre com o mesmo entusiasmo.
® Sabem muito bem quais são suas qualidades e limitações, assim como as qualidades e limitações das outras pessoas.
® Interessa-se por questões e assuntos de adultos, indaga o porquê das coisas, opina discute, reflete e critica.
® As coisas para ela vão deixando de ser completamente boas ou completamente ruins, e passam a ser sujeitas à uma infinidade de tons que cabem entre os dois extremos, ou seja, começa a ser capaz de perceber que toda a regra tem exceções.
® Apresenta-se menos absoluta e fica mais dependente dos desejos e necessidades do grupo.
® É a idade dos tesouros pessoais, muito cuidados e muito próprios, das coleções, embora não sejam organizadas.
® Tem grande importância nesse processo de maturação a presença do afeto que a criança recebe dos pais, pois se inicia o desenvolvimento da consciência nos aspectos de identificação e medo da perda do seu amor ou da aprovação.
® A introdução do dinheiro não deve ser separada das idéias de “esforço” e “poupança” e isto exige que os pais procurem proceder com maior tato possível.
® Começam as preocupações como a expectativa de ser aceito por um grupo, ou certas diferenças em relação a outras crianças da mesma faixa etária se agravam aqui, e são um aspecto de maior importância na adolescência.
® Sente inclinação para entrar em conflito com os outros. Procura desculpas para justificar a sua atitude.
® Sabe trabalhar com maior independência, mas precisa que lhe repitam as coisas com bastante frequência.
® Têm grande capacidade de proteção, projetada, especialmente em crianças mais pequenas, animais, etc.
® Gosta que a professora faça a programação das suas atividades e lhe recorde imediatamente se deixou algo fora do programa, a rotina planejada é necessária nessa faixa etária alternando-se entre atividades de descontração e lúdicas e de concentração e estudo.
Desenvolvimento da sexualidade
® Essa fase é marcada pelo início das intensas transformações físicas que transformam a criança em um adulto; é o início da puberdade, marcada principalmente pelo aumento do ritmo de crescimento corporal e pelo amadurecimento dos órgãos sexuais
® A identificação sexual da criança nessa fase passa exclusivamente do genitor, e outras pessoas passarão a fazer parte desse universo. Às vezes através da relação pessoal com professores, colegas de escola, outras através da televisão, revistas, livros, cinema, internet, outros personagem se revelam muito mais atrativos que os próprios pais, podem ser alvo de sua admiração e, em conseqüência, de imitação.
® Meninos e meninas parecem estar agora num mesmo nível de maturação sexual. Porém, as meninas mostram-se muito mais próximas da adolescência do que os meninos; esse fato pode ser facilmente constatado com base em sinais de caráter fisiológico.
® A preocupação com a aparência, o modo de vestir-se e pentear-se, podem chegar a assumir grande importância e não é bom ridicularizar as crianças que, com mais vontade do que acerto propriamente dito, tentam parecer mais atraentes.
® Satisfações e frustrações se alternam, e amor, ódio e indiferença compõem um quadro de vivas emoções em que a criança será capaz, por ela mesma de vivenciar e aprender experiências fundamentais para seu desenvolvimento imediatamente posterior.
® O que quase nenhuma criança nessa idade suporta na família e escola é ser tratada como criança pequena, que necessita constantemente de proteção. Na verdade ela continua necessitando da ajuda dos maiores em alguns aspectos concretos, não hesitando de pedir apoio aos pais, quando vê que precisa. Deve-se tratar, assim, de saber prover essa ajuda, quando for necessária, retirando-a quando for possível ou conveniente fazê-lo.
® Sentem-se atraídas por descobrir fontes relacionadas às questões sexuais que geralmente quando podem consultam às escondidas dos maiores. As explicações pouco claras e evasivas dos adultos, que até aqui funcionavam, já não servem nessa idade, se os pais e/ou professores não as fornecem, procuram por conta própria. Preocupam-se, sobretudo em investigar funções sexuais de ambos os sexos, como se inicia a gravidez e qual o processo que se segue até o nascimento do bebê.
Desenvolvimento do pensamento
® A criança nessa idade permanece ainda no estagio das operações concretas.
® Nesta fase está aprofundando e desenvolvendo o pensamento lógico concreto, porém as operações do pensamento concreto só chegam aquilo que elas possam manipular diretamente ou representar de forma muito viva, ou seja, ela ainda não é capaz de elaborar raciocínios baseados em enunciados puramente verbais e abstratos.
® Inicia-se a evolução da memória, agora um ponto crucial do seu desenvolvimento.
Desenvolvimento Psicomotor
® Não necessita do apoio do adulto nem de estímulos do ambiente para assumir suas tarefas até o final.
® Exibe um ar de preocupação, manifestando a capacidade de autocrítica.
® É propensa a variações de humor com muita facilidade, passando sem transição da expansão e do atrevimento à timidez.
® Seus movimentos são bastante limpos nos membros superiores e inferiores.
® Nessa fase estará completando o conhecimento sobre localização, da denominação e da função das diferentes partes do corpo, assim como o conceito de proporções corporais, ela conseguira desenhar a figura humana com maior fidelidade.
® Diz-se que, em matéria de desenho, ela está entrando na “fase do realismo”. Procuram reproduzir a realidade com máxima aproximação possível. Seja copiando do natural ou reproduzindo desenhos ou fotografias ou desenhos, elas tentam não omitir nenhum detalhe, nem mesmo os menos importantes.
® O movimento é bem representado graficamente, e também aparecem construções de certa complexidade, assim como outros elementos de diferente significado que denotam a maturidade que o autor está alcançando em termos de desenvolvimento cognitivo.
® Olhos e mãos estão bem diferenciados, e podem funcionar com total independência.
® Começa a aparecer diferenças entre a evolução do grafismo entre meninos e meninas, de modo geral, as meninas costumam ter um domínio manual mais adiantado, resultado de um desenvolvimento precoce na motricidade.
® A organização dos movimentos é absolutamente correta, os deslocamentos e a pressão do lápis são controlados, a cabeça e o tronco se mantém erguidos e na posição adequada, e a escrita começa a fluir rapidamente, sem aparente dificuldade.
® Os jogos coletivos começam a alcançar níveis de organização e complexidade notáveis, o jogo é a ocupação que mais retém seu interesse, possuem suficiente energia para entregar-se às atividades físicas.
® No interior dos grupos começa a tomar corpo a figura do líder espontaneamente, as próprias crianças elegem – ou aceitam – como cabeça o colega que seja capaz de os juntar, organizar e dirigir.
® A personalidade do líder se caracteriza principalmente pela extroversão, a fortaleza, a segurança, a inteligência e a habilidade.
® Nessa faixa etária acontece algo de conseqüências tão importantes como decisivas: surgem os grupos de amigos.
® Os jogos coletivos começam a serem regidos por regras, mesmo em atividades livres. Serve para que os jogadores comecem a exercitar o autocontrole e aos poucos adquiram domínio de seus comportamentos sociais. Segundo Piaget, existe uma estreita relação entre o desenvolvimento intelectual do indivíduo e sua capacidade de aceitar e submeter-se a regras. O fato de que nesses momentos, nos jogos livremente organizados pelas crianças, apareçam regras mais elaboradas mostra um valor indicativo do nível de amadurecimento que elas estão alcançando em sua evolução.
® Todos sentem especial atração por passear de bicicleta. Possuem bom domínio motor para dirigir o veículo e energia suficiente para pedalar sem cansar-se, e se divertem percorrendo caminhos acidentados mostrando suas habilidades ao superar obstáculos, dirigindo com uma só mão ou fazendo pequenas exibições.
Aprendizados básicos nesse período
Nesses dois anos de escolarização a criança consolida a linguagem e os processos de leitura e escrita. Em relação aos conceitos lógico-matemáticos, os exercícios de ordenação e classificação de objetos vão se tornando mais complexos, e as crianças aprendem a agrupar objetos tanto por suas semelhanças quanto por suas diferenças. A criança adquire maior fluidez no cálculo das operações e começa a assimilar noções fundamentais de número, conjunto e propriedades. Nas áreas de ciências sociais e naturais, terá a oportunidade exercitar a observação e a experimentação, assim como iniciar o trabalho em equipe,além de desenvolver diferentes técnicas necessárias para desenvolver esses aprendizados.
Bibliografia:
GESSEL, Psicologia evolutiva de 1 a 16 anos, Ed. Paidós, Buenos Aires, 1963.
HURLOCK, Desarrolio Psicológico dei Nulo, Ed. del Castillo, Madrid, 1963.
“Nuestro Tiempo”, nº 211, Janeiro 1972. Este número é dedicado todo à adolescência.
HURLOCK, Psicologia de la adolescência, Ed. Paidós.
DEBESSE, La adolescência. Vergara. A adolescência é abordada do ponto de vista individual e social.
MORA, Estela. Puberdade e Adolescência. Dos nove aos dezesseis anos, Ed. Equipe Cultural.
MORAGAS, Pedagogia familiar, Ed. Lumen, Barcelona, 1964.
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